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NO MUNDO

 

Um bilhão
de pessoas no mundo vivem com algum transtorno mental

2º no ranking
Os sofrimentos e transtornos relacionados ao trabalho são o segundo agravo à saúde no ranking de prevalência no mundo trabalho, ficando atrás apenas dos distúrbios musculoesqueléticos (OIT, 2016)

36%
é a queda na taxa global de suicídio para o período de 2000 a 2019, enquanto nas Américas, há aumento de 17%

Saúde do Trabalhador

Trabalho enlouquece no século 21

26 de setembro de 2023 

  O Fórum Permanente: Sofrimento mental e suicídio relacionados ao trabalho, organizado pela Rede Margarida na Unicamp, terminou a reunião da semana passada com um ato público na Cidade Universitária para chamar atenção para casos de violências e assédio no ambiente de trabalho. O aumento dos registros nos últimos anos parece indicar a instalação de uma epidemia. Ao longo do dia, relatos de trabalhadores e a apresentação de levantamentos feitos pelos sindicatos desenharam um cenário assustador: casos de suicídios tornaram-se frequentes nos últimos anos em diversas categorias, o que se reflete nos Dados levantados pelo Departamento de Informática do Sistema Único de Saúde (DataSUS):  nos últimos 20 anos, o número de suicídios dobrou no Brasil, passando de 7 mil em 2000 para 14 mil em 2020.

  O Brasil é também o segundo país com maior número de pessoas com transtorno depressivo nas Américas, com 5,8% da sua população afetada. E também o país com maior prevalência de ansiedade no mundo: 9,3%. Não se sabe exatamente quantos destes casos estão relacionados ao trabalho, em virtude da infelizmente comum e histórica subnotificação que afeta a área e do estigma e preconceito que cerca o sofrimento mental. Dados do Ministério do Trabalho e Previdência mostram que somente em 2020 foram registrados mais de 570 mil afastamentos por transtornos mentais no Brasil, número 26% maior do que o registrado em 2019; e dentre as doenças listadas estão transtornos como depressão, ansiedade, pânico, estresse pós-traumático, transtorno bipolar e fobia social.

  O evento reuniu trabalhadores, pesquisadores, representantes de movimentos sociais e sindicalistas que primeiro debateram o tema no Centro de Convenções e depois saíram em passeata até a Praça da Paz. Durante a manhã, José Paulo Porsani, do sindicato dos Trabalhadores em Pesquisa, Ciência e Tecnologia (SINTPq), apresentou o resultado de levantamento feito durante o mês de setembro para embasar as negociações com o sindicato patronal. Ouviu de 53% dos 183 trabalhadores entrevistados que sofrem com estresse no trabalho sempre ou frequentemente; e de 62,3% que pensam em deixar o emprego por conta disso. A amostra é formada por trabalhadores de 29 empresas da base de representação do sindicato.

  O questionário propôs também que avaliassem a atuação das empresas no cuidado com a saúde mental e 49,2% disseram não haver nenhuma e quase nenhuma atuação (valores 1 e 2), outros 26,8% deram nota 3 e apenas 24% dos trabalhadores avaliaram suas empresas com notas 4 ou 5 (onde 1 é nenhuma e 5 é plenamente satisfatória).

Associação nefasta
  Madalena Margarida, secretária de Saúde da CUT, também apresentou uma escuta realizada pela Central em 2021, para embasar as discussões realizadas durante o processo de revisão da Norma Regulamentadora 17 (NR-17) e aponta a nova organização do trabalho, que inclui os aplicativos, associada às mudanças promovidas pela Reforma Trabalhista como os principais determinantes deste cenário, segundo a visão dos trabalhadores. “Vimos aumentar, nos últimos 6 anos, os índices de assédio moral, sexual e político eleitoral, praticas antisindicais e ameaças constantes de demissão. Essas ações ferem a dignidade humana e tem afetado a saúde física e mental de milhares de trabalhadores e trabalhadoras”, disse.

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Madalena ressalta que “mesmo e apesar de muitos ainda silenciarem com medo perderem seus empregos e até em consequência de traumas, muitos estão denunciando e recorrendo à Justiça” para conseguir reparação e punição dos responsáveis. “A saúde e a segurança é fundamental e necessária e passou a ser um dos direitos fundamentais no trabalho declarado pela OIT em 2022. O trabalho deve estar também associado ao bem estar e a felicidade, afinal ele é central na vida da classe trabalhadora”, conclui Madalena.

CONVENÇÃO Nº 190

O Fórum contou com a presença da ativista sindical aeronauta e feminista Dina Feller, que trouxe sua experiência e os ganhos na Argentina com a retificação da Convenção Nº 190 da Organização Internacional do Trabalho (OIT). Feller é Coordenadora da Federação Internacional dos Trabalhadores em Transportes (ITF), organização global que reúne 708 sindicatos de transportes de 154 países e representa cerca de 4,6 milhões de trabalhadores e participou do Fórum a convite de Patrícia Gomes, aeroviária representante da Federação Única do Setor Aéreo (FUSA) e membro da comissão organizadora do evento. A C190 é o primeiro tratado internacional que reconhece o direito de todas as pessoas a um mundo de trabalho livre de violência e assédio, incluindo violência e assédio com base em gênero. A partir da C190, a OIT estabelece novas normas globais com o objetivo de acabar com a violência e o assédio no mundo do trabalho. Para Feller, o futuro do trabalho no Brasil poderá evoluir sensivelmente se a C190 for ratificada aqui.

  A tarde foi tomada por relatos emocionados, com a abertura do microfone para o relato de experiências pessoais. E encerrada com o lançamento do livro “Desse jeito não dá mais: trabalho doente e sofrimento mental”, organizado por Marcia Bandini e Sergio de Lucca, do Laboratório de Estudos sobre Saúde e Trabalho (ESTER); pelos professores do Departamento de Saúde Coletiva da FCM e Agnus Lauriano, e pelo aluno do Programa de Pós-Graduação em Sociologia do Instituto de Filosofia e Ciências Humanas (IFCH) da Unicamp.

Relatos em Fórum Permanente na Unicamp revelam indícios de cenário epidêmico de suicídios e adoecimento mental no mundo do trabalho

FOTO: Amira Romagnoli Al Dergham (Divulgação)

FOTO: Nicolas Batalha Ferreira - (Divulgação)

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Desse jeito não mais! Trabalho doente e sofrimento mental 
Trata de como a desregulamentação do trabalho contemporâneo afeta negativamente as relações pessoais e sociais. 

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