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Pandemia

24 de agosto de 2020

Não há medicamento contra coronavírus

Apesar disso, com incentivo do Ministério da Saúde, vários governos de Estados e municípios do país promovem a distribuição de kits contra covid-19

O Cosems-SP, preocupado com a onda de distribuição de kits de medicamento para tratamento e prevenção de covid-19 pelos governos, soltou uma nota técnica sobre o manejo e tratamento de casos leves da doença e vem realizando debates a respeito. A nota começa com o alerta de que “até o momento nenhum produto farmacêutico é considerado seguro e eficaz para tratar a COVID-19”, e segue com relatos e análises dos riscos do uso dos fármacos que vem sendo distribuídos por governos estaduais e municipais nesses kits.

No debate acima, o professor Leonardo R. L. Pereira, da Faculdade de Medicina da USP de Ribeirão Preto; e o médico sanitarista e pesquisador da Fiocruz, Cláudio Maierovitch falam sobre a conveniência e o melhor uso de testes, do isolamento social e de medicamentos com a mediação de Aparecida Linhares Pimenta, secretária executiva, e Dirce Marques, assessora técnica, as duas do Cosems-SP. 

A composição dos kits varia um pouco, mas envolvem ao menos três fármacos da lista que inclui azitromicina, ivermectina, cloroquina e dipirona. Todos eles  vem acompanhado de um termo de consentimento, que deverá ser assinado pelo paciente caso ele faça o uso da cloroquina. Algumas prefeituras restringem a distribuição a pessoas com sintomas, familiares ou que tiveram contato com doentes, como em Presidente Médici/RO e há casos de campanhas de distribuição em massa organizadas pelo governo do Estado e com incentivo do Ministério da Saúde, como o Rio Grande do Sul. Levantamento do Jornal Zero Hora mostra que 159 cidades gaúchas aderiram à campanha da Secretaria Estadual da Saúde, que intermediou a distribuição de cloroquina do Ministério da Saúde. A reportagem traz detalhes da distribuição feita pelos gestores de Gravataí, Cachoeirinha, Parobé e Campo Bom. Em Gravataí, por exemplo, a prefeitura estimava que iria distribuir 100 mil comprimidos de cinco drogas que entraram no kit, entre eles ivermectina e cloroquina. O jornal informa

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KIT COVID: Distribuição pela Unimed de Fortaleza repercutiu nas redes sociais

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André C. Kalil,  professor do Departamento de Medicina Interna da Universidade de Nebraska, em artigo no JAMA

 

“A administração de qualquer medicamento não comprovado como “último recurso” pressupõe erroneamente que o benefício será mais provável do que prejudicial. Contudo, quando um medicamento com efeitos clínicos desconhecidos é administrado a pacientes com uma nova doença (como Covid-19), não há como saber se os pacientes se beneficiaram ou foram prejudicados se não foram comparados a um grupo de controle simultâneo. Uma interpretação comum do uso off label e do uso compassivo de fármacos é que, se o paciente morreu, eles morreram da doença, mas se o paciente sobreviveu, sobreviveu por causa do medicamento em questão. Isso não é verdade”.

 

*Journal of the American Medical Association

ainda que o senador Luis Carlos Heinze (PP) é um dos interlocutores do MS, que se dedica a incentivar o uso de cloroquina por meio de reuniões virtuais com gestores de diferentes regiões e médicos favoráveis. O que parece estar dando bons resultados, porque no Estado de Santa Catarina, vizinho ao Rio Grande do Sul, o prefeito de Itajaí organizou uma campanha de distribuição da cloroquina que deveria alcançar ao menos metade da população, de 220 mil habitantes. Em uma semana, havia entregue a medicação para quase 20 mil moradores.

Leonardo faz um alerta justamente para os perigos da distribuição em massa, que não leva em consideração as condições

de saúde de cada um e do risco de morte envolvido nesse tipo de recomendação.

No Mato Grosso do Sul, havia dois projetos de lei e uma indicação em análise na Assembleia Legislativa no início deste mês, prevendo distribuição em massa de cloroquina;  as prefeituras de Cuiabá (MT) e Pindamonhangaba (SP) usam as unidades básicas do Sistema Único de Saúde-SUS para distribuir os fármacos “para prevenção”; e a vigilância sanitária do Estado da Bahia autuou a Igreja Batista Memorial, do sul da Bahia, que estava distribuindo o kit covid entre seus fiéis de forma irregular. Há ainda notícias de distribuição do kit por empresas de convênio médico, como fez a Unimed em Fortaleza, no Ceará. 

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